sexta-feira, 22 de maio de 2015

O Monstro Sagrado

Ele canta, ele dança, ele balança a pança, ele compõe, ele pinta, ele desenha, ele escreve, ele atua. E maravilhosamente bem.

Ele é o MONSTRO SAGRADO.

Entidade inatacável, porque, afinal de contas, ele mudou o rumo das artes plásticas, da música, da arquitetura, da literatura, do cacete à quatro. E temos que nos curvar agradecidos pelo privilégio de habitarmos o mesmo planeta em que vive o monstro sagrado.

Mas o monstro sagrado pode ser chato pra caramba.

Ele não gosta de dar entrevista, de fazer show, de ser fotografado, de ser reconhecido na rua. Ele dá piti.

Ele está cansado de pintar, de escrever, de compor, de atuar e, afinal de contas, o que a gente quer mais? Já não tivemos o bastante?

Nosso dinheiro já pagou o leite das crianças, o pied à terre em Paris, o uísque, a conta de luz, o salário dos empregados e, ao invés de nos sentirmos honrados em termos proporcionado o que o monstro sagrado merece, ficamos cobrando um comportamento minimamente civilizado do ser ungido pelos deuses. Somos uns ingratos.

O que deveríamos fazer é olhar o monstro sagrado com o carinho e a condescendência que olhamos para um avô impertinente. Mas acontece que o monstro sagrado não é nosso avô, nem pai, nem tio, nem nada nosso. Ele é simplesmente alguém que bota a cara na janela a partir do momento em que tira sua obra da gaveta e compartilha-a conosco, os simplesinhos.

Vale lembrar que sem os nossos sentidos, sem nossos olhos  e ouvidos , a genialidade do monstro sagrado seria apenas uma possibilidade, porque existe de fato a partir do momento em a reconhecemos como tal.

Então, como tenho cada vez menos paciência com mimimi, começo a medir meus ídolos com outra régua e penso seriamente em acrescentar "iconoclasta" ao meu sobrenome.

Bisou, ;*

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